Igualmente conhecida como Bornal, Bornão, Borral ou Borraçal Branco, a casta Avesso distingue-se, desde logo, pela sua designação. A palavra “avesso”, como sabemos, é amiúde empregue como sinónimo de uma pessoa de má índole ou para descrever qualquer coisa/situação que se encontra “ao contrário”, “oposta” ao que efetivamente deveria ser. O nome poderá assim resultar das dificuldades e exigências que a casta coloca tanto na vinha como na adega. Na verdade, na vinha revela-se muito sensível à doença; a volumosa folhagem, condicionadora de um adequado arejamento, quando removida em excesso potencia o risco de escaldões devido à sua película fina. Necessita assim de muita intervenção e cuidados do abrolhamento à vindima. Na adega, são outros os desafios relacionados com os mostos e vinhos bastante suscetíveis à oxidação e perda de acidez.
Não será, por isso, de estranhar que no passado tenha sido marginalizada e caído no esquecimento. O nome, porém, não diz tudo e nalguns casos poderá até ser injusto, encobrindo outras características e, na circunstância, as grandes virtudes enológicas que justificam a sua recuperação e o “carinho” que tem vindo a receber e merecer.
Originária de Baião, tem sido adaptada com sucesso a outras sub-regiões, como Sousa, e em particular, às limítrofes com o Douro – Amarante, Paiva e Basto. Solos graníticos e xistosos, de preferência abaixo dos 300 metros, são os que melhores condições parecem propiciar ao seu desenvolvimento, dando origem a vinhos frescos, com notas florais e minerais e até de fruta citrina e de caroço, ligeiramente mais encorpados quando comparados com a maioria das castas brancas congéneres. Vários viticultores e enólogos, entre os quais Fernando Moura, realçam o potencial de guarda dos vinhos desta casta, cuja passagem do tempo e evolução favorece o surgimento de aromas e paladares a mel e a frutos secos, como a amêndoa. De facto, são várias as vozes que exaltam os benefícios do tempo para o Avesso – contribuindo para desconstruir as ideias de algumas mentes mais conservadoras relativamente ao envelhecimento dos Vinhos Verdes – acrescentando-lhe estrutura e complexidade.
Com cada vez maior notoriedade em regime monovarietal, nem por isso o Avesso é menos versátil, sendo frequentemente combinada com Alvarinho, Arinto, Loureiro ou Trajadura, conferindo complexidade aromática e corpo aos lotes. É igualmente empregue como vinho base de espumantes – um bom exemplo corresponde ao Quinta da Raza Espumante – através dos quais, aliás, se começou a perceber o mencionado potencial de envelhecimento da casta.
Os vinhos da casta Avesso, com o seu carácter fresco e elegante, são o complemento ideal para pratos de peixe e marisco, incluindo massas e cataplanas; quando mais evoluídos, combinam bem com queijos e alguma charcutaria, como o presunto serrano. A destacada complexidade aromática, juntamente com o notável balanceamento entre acidez e estrutura fazem com que os vinhos da casta Avesso se adequem tanto aos dias quentes, como aos mais invernosos; encaixando na perfeição na categoria denominada de ‘Brancos de Inverno’.
Na Quinta da Raza dispomos, aproximadamente, de três hectares de Avesso e esta casta pode ser encontrada em cinco das nossas referências, revelador da importância e qualidade que lhe reconhecemos: CURTIMENTA, QUINTA DA RAZA AVESSO, QUINTA DA RAZA AVESSO-ALVARINHO, QUINTA DA RAZA ESPUMANTe e QUINTA DA RAZA FAMILY COLLECTION Nº2.
Sem dúvida um dos mais singulares vinhos do nosso portefólio, o CURTIMENTA, 100% Avesso, é um vinho natural branco de curtimenta. Após a colheita das uvas no ponto ótimo de maturação, estas, após desengaçadas, são colocadas nos nossos lagares centenários de granitos onde ficam a fermentar, somente por ação das leveduras indígenas, até cerca de dois terços, momento a partir do qual o vinho é trasfegado para cubas de inox, aí finalizando a sua fermentação. A sua peculiar cor dourada provém do contacto prolongado com as películas e sementes; na boca é seco e persistente, sobressaindo aromas de louro e casca de tangerina. O QUINTA DA RAZA AVESSO, outro monovarietal, fermenta, por seu turno, em cubas de inox a temperatura controlada, cumprindo ainda um estágio de 4 meses na presença de borras finas. Revela-se um vinho elegante, citrino, de aspeto límpido e brilhante e com aromas frutados e florais. O final de boca harmonioso e persistente tornam-no no acompanhamento ideal de pratos de peixe, refeições asiáticas e ainda de carnes brancas e queijos. No QUINTA DA RAZA AVESSO-ALVARINHO 2020, a casta Avesso encontra-se numa proporção de 60%; após a fermentação em cubas de inox, são acrescentados 10% da colheita anterior que estagiou 12 meses em carvalho francês, seguindo-se, desta feita e antes do engarrafamento, novo estágio por 18 meses sobre borras finas. É um vinho distinto, de enorme qualidade, com um significativo potencial de envelhecimento, harmonizando muito bem não apenas com peixe, mas também com pratos de carne. O QUINTA DA RAZA ESPUMANTE BRUTO NATURAL 2019 é um vinho espumante obtido através do método clássico (Méthode Champenoise), com leveduras livres e estágio de 24 meses em garrafa. Avesso é uma das três castas aqui presentes (45%), a par de Alvarinho (45%) e de Arinto (10%). Com um final de boca seco (Bruto Natural) e bolha fina e persistente, este é o espumante de eleição na celebração de bons momentos, aperitivos e entradas à base de marisco. Por fim, o QUINTA DA RAZA FAMILLY COLLECTION Nº2, onde o Avesso se encontra em proporção minoritária (8%), porém, não menos importante. Este vinho Premium da Quinta da Raza fermentou em barricas de carvalho francês de 500 litros com 5 anos, nas quais fez bâttonage durante 12 meses em borras finas. Engarrafado 28 meses após a colheita de 2020, revela a madeira bem integrada e aroma intenso a fruta e especiarias.
Precisa de mais razões para se render incondicionalmente ao Avesso?