Mitos e “mal-entendidos” dos Vinhos Verdes

Poucas regiões de vinho serão dadas a tantos mal-entendidos como a Região dos Vinhos Verdes. Neste texto procuraremos, de forma simples e descomplexada, esclarecer alguns dos ‘mitos’ que ainda pairam sobre os Vinhos Verdes.

O Vinho Verde é feito com uvas verdes, isto é, que não completaram a sua maturação?

Os vinhos produzidos no Entre-Douro-e-Minho têm características distintas dos oriundos de outras regiões, sobretudo pela acidez bem vincada, mas também pelo seu perfil fresco, aromático e frutado. Talvez por isso se tenha estabelecido a diferença entre vinhos ‘verdes e maduros’, como que indiciando que a produção dos primeiros resultasse de uvas verdes e, a dos segundos, de maduras. Ora, actualmente, nada disso corresponde à verdade, uma vez que apenas uvas maduras, com a maturação fenólica completa, permitem a produção de bom vinho. Enquanto que a maturação tecnológica indica quando a uva tem o nível ideal de açúcar e acidez para a colheita, a maturação fenólica é mais complexa e mede a evolução dos taninos, antocianinas (responsáveis pela cor) e outros compostos presentes na pelicula, nas grainhas e no engaço da uva, ou seja, é esta maturação que define a estrutura do vinho, a intensidade da cor, a textura e complexidade na boca. Vindimar no ponto ideal de maturação fenólica é o que garante vinhos mais equilibrados, elegantes e complexos. Assim, a separação entre ‘verdes e maduros’ acaba por ser incorreta e imprecisa, dado que a maturação fenólica pode estar completa em uvas com um grau alcoólico mais baixo, o que significa que as uvas já estão maduras e no ponto óptimo de colheita.

Ao invés de nos perguntarem, como tantas vezes sucede, se queremos acompanhar a nossa refeição com um verde ou um maduro, devíamos ser questionados se queremos um vinho da Região dos Vinhos Verdes, do Dão, da Bairrada, etc.

Os Vinhos Verdes são todos brancos?

Alguns turistas que visitam a Quinta da Raza, particularmente estrangeiros, ficam, por vezes, bastante surpreendidos ao repararem, na nossa loja de vinhos, na presença de vinhos tintos, como o Dom Diogo Vinhão, o Raza Tinto, o Raza Lagares ou o Quinta da Raza Vinha de Cerdeiredo. Com efeito, nada disto é de estranhar, uma vez que, nos seus respetivos países de origem, os Vinhos Verdes que estas pessoas encontram em garrafeiras, lojas de vinhos ou na grande distribuição, são essencialmente brancos e, menos frequentemente, rosés. Ainda que a Região tenha, hoje em dia, nos vinhos brancos, a grande fatia da produção (cerca de 80%) a verdade é que esta realidade terá pouco mais de 30 anos, uma vez que foi apenas no final da primeira metade da década de 90 que os tintos, até então predominantes, começaram a ser ultrapassados pelos brancos. Desde então, os apoios à vitivinicultura e à modernização das vinhas, a paulatina introdução de mais e melhor tecnologia nas adegas, particularmente ao nível da refrigeração, e as tendências de mercado, têm conduzido a um crescimento exponencial da produção dos vinhos brancos.

Assim, ainda que, atualmente, predominem os brancos, é cada vez mais significativa a produção de rosés E, a propósito, quem nunca provou um Vinho Verde tinto, não sabe a experiência singular que está a deixar escapar! E que tal, para começar ou para acabar, como queira, um Dom Diogo Vinhão?

 Os Vinhos Verdes devem ser consumidos ‘jovens’?

Como acabamos de referir, em tempos idos, a Região era conhecida pela produção de vinhos tintos. O gosto da época, mais inclinado para os tintos, o maior conhecimento técnico exigido para a produção de vinhos brancos, e ainda ao facto de estes serem mais suscetíveis à oxidação, fez com que, tradicionalmente, os consumidores preferissem os vinhos ‘novos’, que deviam ser bebidos num curto espaço de tempo. Na verdade, esta tendência ainda hoje se mantém; é comum, pouco tempo após a vindima, os nossos estimados clientes nos perguntarem se já temos o Dom Diogo Azal, o Dom Diogo Arinto ou o Dom Diogo Padeiro ‘novo’! Porém, o cuidado com que, hoje em dia, são elaborados os vinhos, fazem com que mesmo estes  de perfil mais frutado, mantenham as suas qualidades intactas por alguns anos. Por outro lado, é cada vez mais frequente, e de forma deliberada, a produção de Vinhos Verdes duradouros, que evoluem maravilhosamente em garrafa, e que atingem o máximo potencial 5, 6 ou 7 anos após o ano de colheita. São vinhos de guarda, de grande complexidade, estrutura e mineralidade, por vezes com estágio em madeira. Na Quinta da Raza, os nossos Quinta da Raza Avesso-Alvarinho, o Quinta da Raza Vinha de Lamelas, e o Quinta da Raza Family Collection Nº3, encaixam que nem uma luva nesta definição. No fundo, é a Região dos Vinhos Verdes a demonstrar que está em posições de ombrear com qualquer outra região vinícola na elaboração de vinhos de excelência, recusando-se a ficar confinada a um determinado perfil.

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Para consultar os nossos vinhos deverá ter idade mínima legal em vigor para consumo de bebidas alcoólicas.
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